Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com o coordenador:
CeMAIS - A que você acredita que se deve o sucesso das ações?
Marcelo Manoel Sobrinho - Ao trabalho conjunto e holístico, entendendo a Instituição como um organismo vivo, entendendo em cada uma de nossas moradoras sujeitos de direito e dignidade. Todas as vidas humanas são importantes e de igual valor A equipe de gestão e saúde, dentro do horizonte possível, procurou reunir os funcionários, as famílias e as moradoras e fazer o gerenciamento e o acompanhamento individualizado, enquanto as tarefas e novos protocolos de saúde, segurança e vigilância sanitária fossem executados. Muitas mudanças e variações de comportamento e rotina aconteceram. Todavia, todos os envolvidos, de modo ativo e responsável, estiveram por dentro do que foi modificado e efetivado, procurando, sempre que possível, contribuir para alguma solução mais assertiva dentro do processo.
TODAS AS VIDAS HUMANAS SÃO IMPORTANTES E DE IGUAL VALOR
CeMAIS - Vocês chegaram a desistir de lutar contra a doença em algum momento?
MMS - A pandemia nos trouxe uma reflexão onde somos igualados em nossa pequenez. E quantas surpresas! Tomados por um outono de muitas incertezas e dúvidas, fomos levados ao cair das folhas a deixarmos ser guiados pelo tempo. E quando em 3 de julho tivemos o primeiro caso confirmado com Covid-19 entre as moradoras, colocamo-nos em estado de cobrança, tristeza e desalento. Perguntas banais como “por que aconteceu aqui?”, “o que fizemos de errado?” deram lugar para um otimismo operante de nos esforçarmos para conquistar e perpetuar a cura. E quantas alegrias e surpresas: a receptividade dos familiares por meio de vídeo chamadas e telefonemas, o engajamento dos funcionários em quebrar a rotina com atividades antes nunca feitas e a competência de cada funcionário que procurou tornar a vida de nossas moradoras mais acessível e colorida.
CeMAIS - Qual foi a maior dificuldade e o maior medo que vocês enfrentaram nesse período?
MMS - Para além das dificuldades financeiras e estruturais, durante esse período, a expressão: “esse vírus só mata velho, e daí?” conseguiu questionar e abalar os nossos alicerces. Numa fase social em que o pensamento sobre si mesmo se tornou a norma, esse vírus nos envia uma mensagem clara: a única maneira de sairmos disso ilesos é fazer ressurgir o sentimento coletivo de ajuda ao próximo, de pertencer a uma comum unidade, de sermos responsáveis, sujeitos da história e se fazer parte de algo maior que, por sua vez, é responsável por nós. Movimento dialético, lei da ação e reação: corresponsabilidade! Está faltando empatia, sentir que nossas ações influenciam no destino das pessoas ao nosso redor e que dependemos delas. Em uma sociedade baseada na produtividade e no consumo somos forçados a parar... recolhidos, calados, alarmados, silenciados na dor sentimos na pele o que milhares de idosos sentem cotidianamente. Até que ponto o caminho da lógica e do sucesso vale a pena se não for acompanhado de reciprocidade, afeto, carinho e tolerância. Grandes ações devem ter uma razão maior para serem feitas do que apenas lucro ou grandeza. É preciso pensar nas pessoas, no bem-estar do nascer ao morrer. É preciso tomar atitudes que, mais do que enriquecer alguns, façam do mundo um lugar melhor para todos. Equidade e justiça social! Com o universo e suas leis, parece que a humanidade já está bastante endividada e que essa pandemia está chegando para nos explicar, a um preço caro: OS NOSSOS IDOSOS SÃO DESCARTÁVEIS?
ESTÁ FALTANDO EMPATIA.
CeMAIS - Que mensagem você deixaria para os outros dirigentes de ILPIs nesta fase tão delicada que estamos vivendo?
MMS - “Ninguém solta a mão de ninguém”, apesar de dias frios e turbulentos é necessário ressaltar a importante missão de cada um de vocês: nobres guerreiros! Missão quente, carregada de calor e dinamismo que consegue trazer vida e poesia aos nossos dias. Um verão diferente, que nos tira das praças e das serras, mas nos incentiva ao senso de coletividade e empatia, proporcionando um ambiente que o permita olhar da janela (do quarto ou virtual) a possibilidade de aprender e compreender, não apenas os referenciais de cuidados básicos, mas a importância de dignificar a vida humana em todas as suas dimensões. Conte conosco!
Mensagem de moradoras do Lar Frei Zacarias