Mais de 40 médicos de Belo Horizonte, especialistas em geriatria e/ou medicina paliativa, se uniram voluntariamente para multiplicar o cuidado com as pessoas idosas durante a pandemia de Covid-19. Eles formam o Programa Rede Paliativo BH que, com a parceria do CeMAIS, realizou em maio, dois encontros virtuais com as ILPIs particulares da capital mineira. O objetivo dos encontros foi apresentar o programa, além de repassar orientações de cuidados importantes a serem seguidas pelas instituições, detalhadas também no documento da Frente Nacional de Fortalecimento das ILPIs.
Organizamos em tópicos as principais orientações passadas pelas representantes do Programa Rede Paliativo BH nos dois encontros. Acompanhe também o programa no Instagram: @redepaliativobh e confira o material educativo disponibilizado no site: www.cicluzsaude.com.br/acao-covid19
As instituições devem adotar medidas para minimizar questões emocionais relacionadas ao isolamento social. A instituição é um lugar de cuidado integral. A idade não deve ser um fator limitador para o acesso ao cuidado, o tratamento deve ser adequado e proporcional a necessidade da pessoa, oferecendo dignidade e conforto.
Atenção a medidas e protocolos de higiene para a contenção de disseminação da doença: uso de EPIs, lavagem das mãos e troca de roupas para minimizar os riscos de contágio. Além da atenção aos sinais de alerta para uma possível contaminação do residente. Ao menor sinal de presença da infecção, deve-se alertar que existe uma pessoa sintomática, procurando o responsável direto, seja o médico da instituição ou do centro de saúde. O vírus só chega de fora pra dentro, por isso o cuidado máximo para evitar o contato: medição da temperatura, a higienização de todo o material usado para as aferições (oxímetro, termômetro, aparelho de pressão, entre outros).
Contato afetivo em tempos de pandemia: o maior afeto é o distanciamento social. É uma missão extremamente difícil, mas são medidas que precisam ser trabalhadas e devem ser buscadas ferramentas virtuais para a aproximação das pessoas idosas institucionalizadas. Permitir aos idosos os contatos de outras formas, esclarecendo-os sobre a realidade vivida e sendo criativos com outras manifestações de afeto.
Recebimento de doações nas instituições: as doações são bem-vindas e necessárias, no entanto, toda embalagem que chega deve passar pelo protocolo de desinfecção. Para as embalagens em que for possível a limpeza com álcool 70%, gel ou líquido, água e sabão ou mesmo água sanitária, deve ser feita.
Higienização dos ambientes nas instituições: recomenda-se o uso de água sanitária e que seja feito por turno. A diluição do produto tem que ser feita e imediatamente utilizada. O armazenamento é inadequado e o produto é fotossensível, assim, ele perde suas propriedades se não for usado na sequência da sua diluição.
Higienização dos utensílios utilizados pelos idosos sintomáticos: as roupas e utensílios dos idosos suspeitos e confirmados devem ser separadas. A lavagem mecânica, se for feita com água sanitária, melhor. É importante verificar e adequar a limpeza conforme o tipo de sujidade das roupas.Lembrando que são questões que estão sendo construídas ao longo da epidemia, uma vez que são casos e realidades diversas.
Triagem para idosos com sintomas gripais: a triagem deve ser feita com a aferição dos sinais vitais, principalmente a temperatura e saturação, no mínimo duas vezes ao dia de todos os residentes da instituição. Avaliando-se queixa e qualquer manifestação de sintomas gripais. Atentando-se a manifestações atípicas, especialmente no idoso frágil. Aumento de confusão mental, alteração gastrointestinal, qualquer mudança nesse momento pode ser indícios da infecção pelo vírus.
Sobre o quarto de isolamento: deve ser bem arejado e devem ser demarcadas as áreas “limpas e sujas” obedecendo aos protocolos de higiene. Deve conter além dos objetos comuns a qualquer quarto (cama, criado, água), o monitoramento direto dos cuidadores se caso for apenas sintomas gripais, e em casos de agravamento da doença, suprimentos para oferecer um atendimento completo.
Sobre o uso de máscaras: é obrigatório para todos os colaboradores da instituição. Estamos lidando com um vírus altamente infeccioso, por isso a recomendação. Deve-se levar em conta que o uso da máscara é para proteger a pessoa que está sadia de uma possível contaminação e a proliferação do vírus. Lembrando que a máscara só é efetiva se acompanhada dos outros protocolos de higienização das mãos. A higiene das mãos é fundamental. As máscaras devem ser trocadas a cada duas horas. As equipes de enfermagem das organizações podem orientar as equipes sobre o uso correto dos demais itens de segurança como óculos, capote, luvas etc.
Gramatura recomendada para a máscara de malha: o ideal é que a máscara artesanal seja 100% algodão e tenha três camadas para uma maior proteção. E a troca seja feita com duas horas de uso caso tenha alguma umidade, fazendo o processo de desinfecção, preferencialmente secar ao sol.
Eficácia da máscara de acetato para o atendimento do idoso: os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) indicados para os lares de idosos são os comuns como capote, máscara, luvas. A face Shield acompanhada de máscara é recomendada para as situações em que haja a presença de aerossóis potencialmente contaminados, por oferecer uma proteção mais ampla. Embora tenha uma maior eficácia, não fica dispensada a necessidade do quarto de isolamento. Preferencialmente, a orientação é a remoção para um hospital ou uma unidade de pronto atendimento do residente infectado.
Cuidados do idoso que volta do hospital (isolamento): para o idoso frágil, os cuidados de higiene devem ser redobrados evitando qualquer possibilidade de contágio. É recomendado, se houver essa possibilidade, que o idoso passe previamente por consulta na própria instituição evitando que o idoso precise ter contato com ambiente altamente contagioso, como os hospitais. Recomenda-se isolamento, troca de roupa e banho após o retorno, além do descarte adequado dos EPIs usados fora da residência. No caso em que não tenha sintomas da Covid-19, e o idoso retorne à instituição, este deve preferencialmente permanecer em isolamento de 14 dias, conforme orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Novas admissões: não havendo outra possibilidade, as admissões devem ser feitas respeitando todo o protocolo de higienização recomendado seguindo rigorosamente o tempo de isolamento de 14 dias, estando o idoso sintomático ou não. Havendo sintomas, o cuidado deve ser feito preferencialmente por uma equipe exclusiva.
Orientações para contenção do idoso demente no quarto do isolamento: é uma situação delicada e desafiadora. A melhor indicação geralmente é não farmacológica e a análise de caso a caso para uma solução assertiva.
Tipos de luva: nos ambientes potencialmente contaminados, a luva de látex de maior resistência e de pulso mais comprido que cubra parte do capote é a recomendação mais assertiva.
Continuidade das atividades nas instituições: é preciso uma avaliação particular para cada caso e instituição. O ideal é reduzir ao máximo a circulação de pessoas dentro das instituições, respeitando os protocolos de distanciamento. A manutenção da equipe multi vai depender das características de cada lar, conforme necessidade e perfil de cada residente. O que for possível ser feito remotamente, recomenda-se que seja adotado.
Testagem dos funcionários sintomáticos e retorno após isolamento à instituição: estão sendo feitos os testes do tipo PCR, com amostra retirada preferencialmente de raspado de nasofaringe. Esse teste detecta partículas virais e consegue identificar de maneira específica o vírus se a doença estiver em atividade. A orientação é que o funcionário siga o protocolo de afastamento de 14 dias. Já no teste sorológico são identificados dois tipos de anticorpos, que confere mais segurança ao resultado do teste. Embora vivendo em um cenário de novidade em relação à doença, há uma estimativa que haja um tempo de aproximadamente nove meses de imunidade para o infectado. De todo modo, a recomendação é que se faça a testagem constante dos colaboradores dentro das instituições.
Rede de apoio do SUS para atendimento online: A parceria está sendo feita entre a prefeitura e Unimed para o teleatendimento especificamente para os pacientes com suspeita de Covid-19. Dentro das ILPIs, o atendimento deverá ser feito mais no sentido do cuidado paliativo.
Outras orientações que as ILPIs encontram no documento organizado pela Frente Nacional de Fortalecimento das ILPIs:
Diretivas antecipadas de vontade em casos de complicação pela Covid-19: necessidade de boas práticas na instituição de como cada equipe deve agir para o enfrentamento, observando a condição do residente.
Organizações do ponto de vista jurídico, EPIs, questões relacionadas ao trabalho.
Prioridade dos testes vindos das ILPIs.
Reconhecimento dos profissionais das ILPIs da mesma forma que as instituições de saúde no acesso aos testes.
Estruturar como será feito monitoramento dos óbitos. Processos em caso de falecimento dentro da instituição.
Trazer visibilidade às instituições. Levantamento de pessoas que vão precisar dessa testagem.
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