Entrevista com Solange Bottaro sobre a pessoa idosa no Terceiro Setor

Solange é Vice-presidente do Instituto Ramacrisna. Ela é formada em Administração de Empresas, tem MBA em Administração de Organizações do Terceiro Setor e possui cursos de Desenvolvimento de Lideranças na Fundação Dom Cabral.

Confira a entrevista que nós fizemos com ela sobre a participação da pessoa idosa no Terceiro Setor:

 

1) Como você conheceu o Terceiro Setor? Há quanto tempo você trabalha/atua em organizações sociais?

Conheci o Terceiro Setor há 47 anos. Eu tinha 23 quando fui dispensada e comecei a fazer trabalhos voluntários. Quem abriu meus olhos para esse mundo foi o fundador do Instituto Ramacrisna, o Arlindo Corrêa da Silva, e assim eu passei a ter esse olhar para o outro, esse despertar. A partir do momento que passei a ser voluntária do Instituto, foi uma perpetuação contínua dessa busca - dessa ação que eu descobri e que fez toda a diferença na minha vida.

 

2) Na sua história de vida, em que momentos as organizações sociais estiveram presentes? Quais os fatos marcantes da sua história que estão ligados à sua atuação no Terceiro Setor?

Posteriormente à minha primeira atuação como voluntária no Ramacrisna, eu passei a ter uma atuação mais efetiva na parte da Gestão. Minha primeira ação marcante como voluntária foi conseguir alimento para as crianças, foi a minha primeira campanha. Alguns anos depois fui para a parte administrativa. Me profissionalizei em Administração de Empresas por causa disso. Percebi que para dirigir pessoas eu precisava entender mais sobre isso. Depois fiz MBA e especializações para aprofundar meus conhecimentos. Já fui presidente do Instituto e hoje sou vice. Quando o fundador faleceu, as pessoas que atuavam mais perto dele já estavam se organizando e demos continuidade, eu era uma dessas pessoas.

 

3) Na sua opinião, qual o papel e o poder da sociedade civil organizada?

Hoje, a sociedade civil organizada é muito mais forte e atuante. Ela é capaz de ter uma influência mais significativa, atuar e definir ações de interesse público. O próprio fato das pessoas conseguirem se profissionalizar para atuar nas organizações muda tudo. O número de mulheres que atuam nas organizações é bem maior. E a mulher é mais voltada para o cuidar, para o empoderamento. A mulher tem uma consciência do olhar para o outro de forma mais terna. Quando a mulher passa a se profissionalizar, isso é incrível. As mulheres são um exemplo do poder da sociedade civil. A importância da mulher que continua atuante com mais de 60.

 

4) Quais os progressos na garantia de direitos e na profissionalização do Terceiro Setor que você pôde observar durante a sua atuação?

Um grande progresso que eu vejo é a mulher se tornar liderança, gestora. Ela percebeu a importância dela se qualificar para isso. Ela tem mais penetração nas decisões políticas com isso. O terceiro setor percebeu que o empoderamento das pessoas permite que a gente tenha uma interferência maior na luta por direitos.

Houve um maior envolvimento com a área pública a partir da década de 1980. Começamos a ter um envolvimento maior com o governo e mais visibilidade também. Então criou-se essa percepção de que podemos modificar a assistência social pública. Essa percepção de que o terceiro setor é determinante na aprovação de leis e na ampliação de recursos para o setor social.

 

5) As pessoas idosas estão presentes no dia a dia das organizações sociais como público atendido e também como trabalhadores e voluntários. Qual a importância do terceiro setor para a ocupação e realização profissional da pessoa idosa?

A pessoa mais amadurecida tem mais experiência. Tem uma condição de perceber as coisas de forma mais apurada. Se você continua se envolvendo, não para de trabalhar, participa da comunidade, a sua condição de interferir nas situações é bastante significativa. A pessoa nova tem energia e dinamismo, mas não tem experiência. A pessoa idosa vai ter uma percepção mais ampla de como as coisas devem acontecer e tem uma humildade maior também, de que ela não tem que dar a última palavra, mas sim a melhor palavra. É uma pessoa mais sábia.

 

6) Se fosse para escolher uma ou duas palavras para representar o seu percurso na área social, quais seriam?

Gratidão e amor. A ternura, amizade e o amor que vamos conquistando. O terceiro setor vai criando uma outra família que vai te envolvendo. As crianças do Instituto, os colegas de trabalho, os parceiros, essa rede de pessoas.