A médica geriatra Karla Cristina Giacomin, servidora da Coordenação de Atenção à Saúde do Idoso da PBH, membro do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento (NESPE) da FIOCRUZ/UFMG e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) no eixo ‘Políticas de Saúde dos Idosos’, foi a convidada do CeMAIS para o encontro virtual com os dirigentes das ILPIs filantrópicas de Belo Horizonte.
A reunião aconteceu no dia 7 de abril de 2020, às 14h, e contou com a presença de mais de 50 pessoas. Além dos gestores das ILPIs e da equipe do CeMAIS, participaram representantes do Conselho Municipal do Idoso de Belo Horizonte e da Fiscalização da Vigilância Sanitária do município. Os participantes trouxeram diversas questões sobre como lidar com a prevenção e no caso de infecção da doença covid-19 em seus lares.
“Este é o momento de prevenir o contágio da doença para não perder tempo nem vidas. Todos devem estar convencidos da importância se manter a etiqueta de higiene dentro e fora das ILPIs. Ao menor sintoma gripal a pessoa deve ser isolada, seja o residente ou o funcionário da instituição. Tudo que puder ser feito, enquanto melhores práticas para evitar que o vírus chegue até uma ILPI, deve ser adotado. Deve-se sobretudo, garantir a blindagem das instituições, não deixando de suprir as suas necessidades diárias, ‘a vida continua’”.
“Em termos de cuidado e saúde, serão oferecidos pelos órgãos competentes responsáveis pelas ILPIs, o que se tem de melhor para o idoso. Por isso, se faz urgente a vigilância dos contatos dentro das instituições favorecendo a detecção precoce dos casos”.
“Conforme a disponibilidade de cada lar, é preciso definir em suas escalas um ‘porteiro’ para que seja treinado para filtrar todas as entradas nas instituições: pessoa com sintoma ou se teve contato com alguém sintomático ou sabidamente positivo pelo Covid-19, não deve ser permitida a entrada no Lar”.
“O rastreio ativo diário é fundamental com todas as pessoas da casa: idosos, funcionários, visitantes. No rastreio, além da medição da temperatura para verificar se a pessoa está com febre, é preciso fazer as seguintes perguntas: “- Apresenta sintomas? Teve contato com pessoas com sintomas? Está gripado?”. Se possível, adquirir termômetro infravermelho para dar maior agilidade. É importante que os resultados sejam anotados e comparados diariamente para identificar mudanças de temperatura. Não pode esperar que o idoso apresente febre alta para tomar atitudes. No caso dos adultos “normais” pode ser considerada febre a temperatura acima de 37,5º. Podemos considerar como suspeitos os casos de febre persistente chegando a 37,8º. Caso alguém apresente febre, não permitir a entrada na instituição”.
“Não poderá ser permitido que nenhum objeto entre na casa de uma forma descuidada, tudo aquilo que for embalado, a embalagem deverá ser limpa e descartada, tudo deverá ser higienizado antes de ser colocado para dentro da ILPI. O que queremos é evitar que o contágio aconteça pelo toque. Os alimentos vão seguir as regras de higiene habituais, o que precisamos é de um cuidado a mais com relação a higiene das embalagens”.
“Existe uma dúvida muito frequente, se é permitido algum tipo de visita na instituição. Os órgãos Mundiais de Saúde orientam que existem algumas visitas que são essenciais. Como é o caso de uma visita a um idoso muito doente, em estado terminal, ou muito frágil. Esse parente poderá realizar a visita, pois é um caso excepcional. É importante, porém manter sempre os dispositivos de higiene das mãos e a orientação de distanciamento, além do rastreio dos profissionais por medição diária de temperatura, visitantes sintomáticos não deverão ser permitidos”.
“Outro ponto é se a instituição deverá receber novos internos, essa questão pode ter duas respostas: A resposta mais razoável é NÃO, estamos em um momento de surto, você está tentando proteger os internos e como não se sabe o histórico desse novo interno, ele poderia colocar os demais moradores em risco. Caso a instituição não possa impedir a entrada desse novo interno, por motivos diversos, essa pessoa deverá permanecer em quarentena dentro da instituição em local isolado. Você precisa garantir que mesmo assintomático, ele não contamine outros moradores. Reforçando que o isolamento do idoso sintomático ou não deve ser em relação aos demais residentes da casa, ele não deve ser abandonado. Podem ser deixados cartazes informativos para se manter a distância e evitar o contato”.
“É sabido da dificuldade de espaço nas organizações, no entanto o adequado seria ter um quarto com banheiro, porta e janela, para que as pessoas suspeitas possam ficar isoladas. A porta fica fechada e com as janelas abertas para que o local esteja bem arejado. O isolamento é do suspeito em relação aos demais idosos. Não pode deixar a pessoa sozinha, se sentindo desamparada. É importante manter a boa saúde mental do isolado. Os utensílios devem ser de uso pessoal e não devem ser compartilhados. As roupas de uso pessoal e de cama também serão individualizadas e deverão ser colocadas em um cesto de roupa suja com uma sacola plástica que será fechada para ser transportada dentro da instituição. As roupas podem ser lavadas com as das outras pessoas”.
“É importante que fique claro para todas as equipes que o vírus tem uma letalidade baixa, mas um contágio extremamente alto. Assim, uma pessoa que estiver contaminada pode contaminar outros, por isso o ideal seria que a equipe de cuidados com a pessoa isolada seja exclusiva deste idoso, pois existe a possibilidade desse cuidador contaminar outras pessoas”.
“A equipe de limpeza da instituição precisa estar atenta e limpar mais vezes durante o dia todos os lugares que forem tocados como maçanetas, bancadas, pisos etc”.
“Cada instituição conhece a sua população de idosos, a equipe de cuidados é que sabe qual o melhor procedimento a tomar, caso o idoso seja acometido pela infecção. Sabemos que pode acontecer do sistema de saúde estar sobrecarregado, então a indicação é fazer a internação daqueles idosos que têm maior chance de recuperação, caso necessite de um CTI, por exemplo”.
“Precisamos ter muita clareza ao tomar esse tipo de decisão, pois aqueles idosos que já estão acamados, não se comunicam mais, às vezes podem apresentar alguma úlcera com riscos de infecção ou outras comorbidades, é preciso avaliar se vale a pena deslocar o idoso do Lar para o hospital ou se é melhor aplicar os cuidados paliativos. A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte pode ajudar as organizações a identificarem quais são os idosos que provavelmente precisarão desses cuidados que são: oxigenação, hidratação por via subcutânea e suporte para que a pessoa não tenha agonia. Quem vai apoiar as instituições nesse quesito são equipes de cuidados paliativos. A Secretaria já está em contato com 19 paliativistas que se dispuseram a apoiar as instituições voluntariamente, especificamente para ajudar as ILPIs”.
Dra. Karla fala dos cuidados paliativos dentro da instituição: não significa que está se “jogando a toalha”, são questões difíceis, mas que precisam ser observadas: alto grau de dependência, indicador de piora da saúde em curto período, doenças terminais ou condição avançada. São questões que devem ser consideradas para reavaliar a capacidade do doente em ser cuidado em tratamento intensivo, além do suporte da instituição possa oferecer a ele.
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