Nathália Simões atua há 10 anos no Terceiro Setor promovendo o fortalecimento das organizações sociais por meio da prática do voluntariado e recentemente lançou o livro infantil "Como posso fazer o bem?". Ela foi a convidada do projeto Caleidoscópio 60+ Nossos Direitos para mais uma edição do Conexão Boas Práticas 60+, que aconteceu no dia 26 de novembro, às 15h. A íntegra do encontro realizado de forma virtual você encontra no canal do CeMAIS:
Realizadas as aberturas, Nathália iniciou sua fala contando sobre sua trajetória no Terceiro Setor e o início da sua caminhada no voluntariado, que segundo a mesma, se deu a partir do convite de uma amiga. Formada em relações públicas e publicitárias, Nathália recebeu o chamado para atuar no Lar Tereza de Jesus, instituição de Belo Horizonte que faz o acolhimento de pessoas em tratamento contra o câncer, e de acordo com ela, não pensou duas vezes na hora de aceitar o convite. "Na época eu conheci o lar, pois tinha uma amiga que fazia parte da instituição, e sabendo das minhas formações, ela me trouxe uma demanda de comunicação. No momento, o objetivo era fortalecer e modernizar as relações do Tereza de Jesus para que ele pudesse captar e mobilizar cada vez mais recursos, se tornando assim autossustentável. Comecei então minha caminhada como voluntária com esses novos desafios, que aos poucos foram despertando ainda mais minha vontade de ajudar".
Após ingressar como voluntária no Lar Tereza de Jesus, Nathália contou que conforme realizava seu trabalho na instituição, acabou percebendo que as pessoas com quem ela fazia contato também iam se interessando cada vez mais pelo voluntariado, e que muitas delas possuíam o desejo de ajudar, mas em muitos casos não sabiam por onde começar ou a quem procurar. "Muitas pessoas me perguntam se pelo fato de eu ter o voluntariado muito forte em mim, se durante a minha formação eu tive experiências de voluntariado, se eu fui estimulada a isso e se minha educação tanto na escola quanto em casa foi voltada pra isso, e não foi. Foi uma descoberta muito recente de um chamado né. Uma pessoa precisou me chamar, me dar a mão e falar: 'Olha, vem cá conhecer, vem cá ter essa experiência', pra eu despertar pra isso. Não que eu fosse uma pessoa egoísta, o meu desejo de contribuir para um mundo melhor estava lá, só que eu não sabia como começar" lembrou. E foi assim, na busca de ajuda para solucionar suas novas demandas, que Nathália mobilizou diversas pessoas em prol de uma causa, e criou conexões que, com o passar do tempo, se tornaram a rede Voluntário Coletivo. O espaço era uma espécie de rede social, que segundo Nathália tinha como objetivo conectar voluntários, e seus corações e habilidades, às necessidades de organizações sociais. Ela lembra que realizava essa conexão de forma manual, uma por uma, o que proporcionava soluções criativas e inovadoras para demandas pontuais que as organizações possuíam. "A partir desse projeto eu pensei 'Quero trabalhar com isso, quero ir pro Terceiro Setor, quero aplicar tudo que aprendi na área comercial, de marketing, de comunicação, e quero levar esse aprendizado e ajudar a fortalecer as causas sociais".
Foi então, a partir deste projeto de voluntariado, que Nathália recebeu o convite do Novo Céu, organização social que acolhe pessoas com paralisia cerebral, para trabalhar na mobilização de recursos da organização, local onde ficou por 9 anos e organizou diversas campanhas e ações. Com toda experiência adquirida ao longo dos anos, ela se lembra que a ação de voluntariado deve ser enxergada como uma via de mão dupla, onde tanto quem realiza a ação, quanto quem recebe, são atores importantes do processo. De acordo com ela, valores são gerados para ambos os lados, e no caso dos idosos não é diferente. Essa troca de experiências promove a saúde física e mental dos envolvidos, e ajuda os idosos a viverem uma vida mais ativa.
Voluntariado e as pessoas idosas
Após apresentar os benefícios das ações voluntárias, tanto para quem recebe, quanto para quem realiza, Nathália discutiu outro ponto importante quando se fala em voluntariado e terceira idade: quais são os motivos que levam a pessoa idoso a se engajar no movimento? Para ilustrar a resposta, ela relembra a história de criação do Novo Céu. "O projeto foi fundado em 1991 pelo Sr. Abílio Coelho, e ele era uma pessoa extremamente mobilizadora, então até hoje, com mais de 30 anos de instituição, existem voluntários e doadores importantes que se envolveram na causa a partir do Sr. Abílio, o que mostra que devemos conhecer o nosso público base que nos acompanha por tanto tempo e tratá-los bem, para que ao longo do tempo, essas pessoas tão importantes sintam que elas continuam fazendo parte da organização e que são peça chave do movimento".
Além do trato com o seu público base, Nathália também apresentou outros três motivos que devem ser levados em conta na hora de engajar a pessoa idosa no voluntariado. O primeiro deles é a busca desse público por novas experiências. A novidade de aprender novas habilidades por meio de práticas diferentes faz com que a pessoa saia de sua rotina habitual, gerando assim o bem estar de todos aqueles envolvidos neste processo. Além de aprender, as diferentes situações permitem às pessoas idosas a aplicarem a sua experiência e conhecimento em novos contextos.
Já o segundo motivo destacado foi o aprimoramento pessoal, função que está ligada diretamente à autoestima do idoso. De acordo com Nathália, a busca por se sentirem necessárias a uma causa, e também melhores em relação a si mesmas são uma constante na vida da pessoa idosa, e devem ser levados em conta na hora de nos relacionarmos com esse público. O fato de se sentir necessário se mostra diretamente relacionado também ao primeiro motivo, pois ao aprender uma nova habilidade desenvolvemos o desejo de aplicá-la em diversos contextos.
O terceiro motivo destacado por Nathália foi a conexão dos valores pessoais de cada um com as ações realizadas pelo voluntariado, tanto por quem recebe quanto por quem pratica. A importância de ajudar os outros, a preocupação com públicos vulneráveis e o sentimento de compaixão por aqueles que passam por necessidades são fatores que se conectam e reforçam princípios que, com o passar do tempo, poderiam ser esquecidos ou sendo pouco utilizados.
Ainda sobre como se conectar com o público idoso, e assim criar ações que sejam positivas e empolgantes para os mesmos, Nathália contou sobre como foi a experiência de realizar uma "corrida virtual" até a praia durante a pandemia. "Com a chegada da pandemia, a nossa dinâmica de relação com o público do Novo Céu teve que ser totalmente adaptada para essa nova realidade, pois não podíamos mais nos relacionar pessoalmente e diretamente como normalmente é feito. Neste momento pensamos: o que todos nós estamos sentindo em comum neste período de quarentena? A vontade de sair, de viajar, de conhecer novos lugares. Foi então que tivemos a ideia de realizar uma viagem virtual até a praia, onde todos iriam contribuir para que chegássemos ao nosso destino comum". O projeto consistia em uma corrida virtual com o objetivo de promover a atividade física, onde cada participante informava no momento da inscrição qual a distância que ele iria percorrer em sua casa. Ao final, as distâncias foram somadas para que o trajeto até a praia escolhida, localizada na Bahia, fosse cumprida e os participantes pudessem celebrar sua viagem virtual. Nathália conta que a campanha foi um sucesso, e a meta de distância foi obtida com facilidade devido ao grande engajamento do público na campanha. "Foi muito legal ver cada uma contribuindo um pouquinho para a meta. Nós recebemos vários vídeos de idosos caminhando em casa, percorrendo a distância que fossem, e se sentindo super felizes em poderem contribuir para o cumprimento da meta final para chegarmos onde todos queríamos estar no momento: a praia".
Nathália finalizou sua participação no Conexão Boas Práticas 60+ apresentando o seu último projeto, o lançamento do seu livro infantil "Como posso fazer o bem?", que discute e apresenta de forma lúdica, conceitos e valores que devem ser aplicados diariamente em nossas vidas e que incentivam e despertam a visão da criança para o bem que pode ser gerado com a prática do voluntariado. "Depois de todas as experiências que eu tive, eu decidi que eu levaria a prática do bem e a prática do voluntariado para o maior número de pessoas que eu conseguisse, pois quanto mais pessoas disseminando e praticando o bem, mais perto estaremos de um mundo melhor".