Entrevista com Maria Isaura de Almeida sobre o Terceiro Setor

Maria Isaura é Presidente da Instituição de Longa Permanência para Idosas (ILPI) Lar da Vovó, inaugurada em 1987, em Belo Horizonte. O Lar da Vovó é uma organização parceira do CeMAIS, com a missão de acolher e cuidar das idosas, respeitando, sobretudo, sua autonomia, e oferecendo afeto, respeito, profissionalismo e ética.

Confira a entrevista que nós fizemos com ela sobre a participação da pessoa idosa no Terceiro Setor:

 

1) Como você conheceu o Terceiro Setor? Há quanto tempo você trabalha/atua em organizações sociais?

Estou no Terceiro Setor há mais de 40 anos. O Lar da Vovó foi fundado pelos meus pais, então os ajudei desde a construção da casa. O respeito com os idosos é muito importante para mim, minha vida foi focada nisso, é uma coisa que faço com amor. O idoso é, para mim, super importante.

 

2) Na sua história de vida, em que momentos as organizações sociais estiveram presentes? Quais os fatos marcantes da sua história que estão ligados à sua atuação no Terceiro Setor?

O momento em que o Estatuto do Idoso foi aprovado, em 2003, foi muito marcante para mim. Foi quando os idosos conseguiram seus direitos. Antigamente o idoso não tinha nenhum direito, nenhum respeito. Eu senti um impacto muito grande com isso. E quando a política começou a falar mais no idoso também foi importante. O apoio do CeMAIS, essa força no site e na logomarca do Lar da Vovó também foi muito impactante para a organização.

 

3) Na sua opinião, qual o papel e o poder da sociedade civil organizada?

O papel de respeito com o idoso da sociedade civil organizada é muito importante, a responsabilidade de cuidar e de defendê-lo. Estar junto a todos os órgãos lutando por eles.

 

4) Quais os progressos na garantia de direitos e na profissionalização do Terceiro Setor que você pôde observar durante a sua atuação?

Dois grandes progressos na garantia de direitos que eu vi o Terceiro Setor conseguindo foi o Estatuto do Idoso e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). A LOAS foi muito importante, porque houve o benefício para os idosos. Antes, mal tinham documentos. O direito ao salário foi uma revolução, muita alegria. Aquela idosa analfabeta que nunca tinha nem imaginado ter um benefício desses, então foi uma grande vitória para o idoso.

 

5) As pessoas idosas estão presentes no dia a dia das organizações sociais como público atendido e também como trabalhadores e voluntários. Qual a importância do terceiro setor para a ocupação e realização profissional da pessoa idosa?

Eu estou com 71 anos, comecei muito nova no Terceiro Setor e ainda estou presente. No Lar da Vovó temos muitos voluntários aposentados que continuam trabalhando. Eu acho que não é a idade que faz a pessoa ser inútil. Depois de 60 anos a gente ainda tem muita força, as pessoas tem que ter estímulo para fazer as coisas. As pessoas estão vivendo mais hoje em dia. Não podemos falar que o idoso de 60 anos é inútil, temos que abrir as portas para essas pessoas, porque elas são produtivas. É muito importante recebê-las. Temos cozinheira e cuidadoras com mais de 60 anos. E elas desenvolvem trabalhos, às vezes, melhores que as pessoas mais novas. Não temos muita energia, mas dá para fazer muita coisa boa. As pessoas se aposentam e querem fazer algo, não querem parar.

 

6) Se fosse para escolher uma ou duas palavras para representar o seu percurso na área social, quais seriam?

Amor e respeito são as palavras que representam o meu percurso na área social. Existem pessoas que acham o velho muito feio. As pessoas vão visitar e você sente que têm nojo do velho. Por isso, para fazer esse trabalho temos que ter amor e respeito.